domingo, 27 de novembro de 2011

Marg Helgenberger


Há um velho ditado que diz que o trabalho dos bons pais é dar aos seus filhos raízes e asas. Valores para mantê-los firmes e a coragem de seguir os seus sonhos. Eu me sinto abençoada porque meus pais me deram os dois. Raízes fortes e Asas fortes.

Eu nasci e fui criada em North Bend, Nebraska, população de 1.213 pessoas. Mamãe era enfermeira e papai era inspetor no empacotamento de carne.

Nós vivíamos em uma casa construída em 1915 na Locust Street cruzando a piscina onde, todo o verão, eu era salva-vidas. Assim que meu dia terminava, meu amigos e eu saíamos de bicicleta até a praia para pescar bagres e bluegill.

Você não podia se meter em muita encrenca em North Bend porque sempre tinha alguém te olhando e com minha mãe sendo enfermeira no North Bend Central, não tinha jeito de matar aula. Talvez uma ou duas vezes eu fui em seu trabalho com dor de barriga. Ela me daria uma bolacha-água-e-sal e me faria tirar um cochilo na cama por 20 minutos. Isso era tudo.

Nós éramos três crianças. Eu era a do meio e papai nos ensinou nas aulas de catecismo na igreja. A especialidade dele era usar músicas pop para ilustrar as lições de fé. Eu não sei como ele conseguia tirar uma lição de "Loggins ans Messina" ou do último sucesso de Kenny Rogers, mas ele, com certeza, evitava que a aula ficasse entediante.

Nós aprendemos com os nossos pais que rezar era parte do dia-a-dia. Mamãe tinha seu grupo de oração e no caso de papai, orar o fazia a pessoa mais inabalável e positiva que eu já conheci. Quando ele tinha um dia ruim ele diria, "Se o sol não está raiando para mim, está, pelo menos, brilhando para outra pessoa". Falando de raízes profundas.

Quem gostaria de deixar pra trás essa cidade idílica e pequena, certo? Bem, no final da minha adolescência eu peguei o bichinho da atuação, e minha professora de teatro do Ensino Médio, Sra. VonRein, me fez competir em torneios de discurso por todo o estado. Interpretação dramática era a minha praia.

Eu me lembro de vir pra casa de um torneio de discurso e anunciar que eu ia me mudar pra poder estudar teatro. Mamãe era contra - como eu faria uma vida como atriz? - mas papai me deu coragem desde o início. "Você deve fazer o que acredita", ele disse. Era tempo de abrir minhas asas.

A primeira parada foi Kearney State College, depois Northwestern University fora de Chicago, onde tinha um excelente programa de teatro. Foi bastante intimidante estar em uma cidade grande num campus com toneladas de atores talentosos. Eu começei a ser escalada para papeis muito bons como Blanche DuBois em A Streetcar Named Desire e KAte em The Taming Shrew.

Voltando pra casa nos verões, eu arrumei um emprego na fábrica de carne, tirando gordura e desossando-a. Era trabalho brutal, com necessidade de força física e era exaustivo. Tinham dias que eu queria desistir. "Segura firme" papai dizia e foi o que eu fiz.

Daí o teto caiu no meu mundo perfeito. Era o final da primavera do ano Junior. Eu estava indo pra Nebraska e eu lembrei de ligar pra casa do telefone pago no corredor do dormitório para avisá-los quando eu estaria lá. Mamãe, sempre prática, mencionou que ela iria para o hospital no dia seguinte para uma tumorectomia.

"Não se preocupe, querida", ela disse, "É só uma cirurgia rotineira". Mas quando eu cheguei no aeroporto e papai me encontrou na saída , eu podia dizer pela sua expressão que eu deveria estar muito preocupada. "É cancer", papai disse, "Ela teve que fazer uma mastectomia".

Lágrimas encheram meus olhos. Eu mal conseguia achar minha bagagem na esteira. Pelos próximos dias eu rezei o mais que eu pude. Eu não podia acreditar que alguma coisa como esta podia acontecer com a minha mãe, que cuidava tão bem de sua saúde.

Por uma ano ela teve quimioterapia e radiação, ficando violentamente doente a cada tratamento. Eu estava tão preocupada que eu deixei a escola. Eu só voltei para as aulas quando o câncer dela regrediu.

O respiro não durou muito. Dessa vez era o meu pai. Ele tinha uma curiosa paralisia nas mãos e braços. Depois ele começou a mancar. Os médicos não conseguiam descobrir o que ele tinha. Finalmente ele vieram com um diagnóstico: Esclerose Múltipla.

Papai era o papai. Ele lutou contra a EM com o seu temperamento e cargas de fé. Ele teria tratamento com cortisona e os sintomas iriam retroceder, então a doença retornaria como vingança, o deixando em uma cadeira de rodas.

Eu me graduei na faculdade e me mudei para Nova York para prosseguir atuando. Eu estava muito orgulhosa de ganhar um papel na novela Ryan's Hope. Isso significava que eu podia mandar dinheiro para casa para ajudar a pagar as contas médicas do papai. Mas, de vez em quando, na solidão da grande cidade, a luta de fazer atuação me pegou, e eu me perguntei "qual a utilidade de abrir minhas asas se eu não posso estar com as pessoas que eu mais amo?"

Papai, mesmo assim, não queria ouvir que eu queria desistir do meu sonho, mesmo que sua condição estivesse declinando. "Se o sol não está raiando para mim", ele ainda diria, "pelo menos eu posso imaginá-lo brilhando para outra pessoa". A vida dele foi assim até o fim. Continuando positivo, continuando focado nos outros, não sentindo pena de si mesmo. A última vez que eu o vi ele estava em coma. Eu sentei do lado de sua cama, segurando sua mão, lutando com a minha tristeza. "Algum dia", eu o disse, "eu colocarei essa cidade no mapa". Esse era um 'Algum dia' que ele sempre acreditou.

O seu funeral estava cheio dos seus alunos do catecismo que aprenderam sobre fé com músicas pop. Eu tenho certeza que mais do que um de nós estava cantando por debaixo dos suspiros enquanto escutávamos as orações e hinos. Mas no meu desgosto, tinha uma coisa que eu não podia fazer. Eu não podia rezar. Eu estava muito brava. Muito machucada. Papai era tão novo. Só 50 anos. Por que Deus o tiraria de nós? Por que agora?

Eu voltei a atuar, me mudei pra Los Angeles e embarquei em papeis de filme e tv. Alguns dias os testes iriam bem ou eu teria um bom retorno de um diretor. Outros dias tudo o que eu ganharia seriam rejeições e eu me afundaria em desespero.

Eu estava batendo minha cabeça contra uma parede? Como eu seguiria em frente? Por que eu não desisti? A ressaca do desgosto me deixou pra baixo. As poucas vezes que eu me senti tentada a rezar, eu não consegui achar as palavras. Eu ainda estava muito brava com Deus.

Um dia eu estava sentada no meu apartamento em L.A. esperando por um telefonema e receando as más notícias que poderiam vir: "Desculpe. Você não é a pessoa certa para a personagem" ou "O papel foi pra outra pessoa". Quando eu pensava no papai.

Eu lembrei das suas aulas de catecismo, seus temperamento ensolarado, a sua reação na mesa de jantar quando eu disse aos meus pais que eu deixaria a cidade para me tornar uma atriz: "Você deve fazer o que acredita". Eu pensei no trabalho no empacotamento de carne e como havia dias que eu queria desistir. "Segure firme", papai dizia. Ele nunca desistiria, mesmo no pior dos dias. Segure Firme.

Eu fechei meus olhos e rezei. A primeira vez em meses. Eu disse tudo a Deus. Eu nunca fui capaz de entender o por quê papai morreu aos 50 ou por quê mamãe teve câncer de mama, mas eu não podia continuar deixando Deus de fora. Eu precisava falar com ele como os meus pais sempre falaram.

"Deus, eu ainda preciso de você na minha vida", eu orei. Eu não podia segurar firme sozinha. Eu precisava cavar fundo nos valores e na fé que a minha família me deu. Isso me sustentaria. Isso sempre sustentou os Helgenbergers.

Hoje mamãe casou de novo e ainda mora em Nebraska. Ela encontra com o seu grupo de oração e vai para a igreja todas as semanas. Ela não é mais enfermeira no North Bend Central, mas ela não hesitaria em me dizer pra comer bolachas-água-e-sal e tirar um cochilo se eu estivesse com dor de barriga. Eu sempre ligo pra ela pra saber das novidades de lá.

Não há muito tempo eu voltei à cidade para uma cerimônia especial. Eles estavam rebatizando a Locust Street, o quarteirão onde ficava a nossa casa, em minha homenagem. Você pode imaginar? Eu abracei antigos amigos e me encontrei com o departamento de teatro de 1977. Daí eu olhei para a nova placa com "Avenida Helgenberger" nela.

"Papai", eu queria ter dito, "eu não coloquei North Bend no mapa, bem, pelo menos nós fomos colocados no mapa deles".

Eu sou muito grata pelo sucesso que eu tenho. Sucesso pode subir à sua cabeça ou te tornar totalmente humilde. Gratidão mantém tudo em perspectiva. Meu papel em CSI tem sido fascinante e sempre que eu faço um filme eu desejo que papai estivesse por perto para vê-lo.

Eu prezo pela mamãe e pelo papai, suas orações e sua fé em mim. Eu não poderia ter chegado tão longe sem eles. Raízes e Asas. Eles me deram as duas

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