sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Fanfic Grillows-Capitulo 3


Grissom passava a mão pelos cabelos molhados, que noite. Respirou fundo, se arrependendo pela forma que suas palavras soavam.

"Me desculpe, não foi a minha intenção te ofender, mas pense bem, com toda a consciência que a bebida não tirou. Você é uma mulher linda, tirando a roupa na minha frente, toda molhada, a chuva caindo... Droga! Como você quer que eu me sinta!"

Ela ouvia as palavras com atenção. Em parte ele estava certo, tudo aquilo até parecia uma cena de algum filme. Um olhar mais calmo.

"Não é sobre o que eu quero que você sinta, Gil. Eu só quero que você seja honesto comigo e consigo mesmo. Eu não estava tentando te seduzir, não intencionalmente. Você tá pensando demais, quem sabe assim você consegue deixar dominar-se pelos impulsos."

Gil olhava em seus olhos, como se tentasse ver através deles. Talvez ela estivesse pedindo muito, ele não poderia simplesmente agir por instinto. Ele ouvia bem o que esse mesmo instinto gritava dentro de si, mas obedecer, era totalmente diferente. Perder tudo seria... era difícil até definir. Aquilo estava errado. Homens são os animais racionais, os demais que agem por instinto. Estes não têm consciência de suas ações.

"Eu sou um homem, Catherine. Eu sinto coisas como qualquer homem sentiria, mas não me peça tal coisa. Eu..." respirou fundo. Quem ele convencia, com quem falava, consigo ou com ela? "Eu não sei o que fazer!"

Ele odiava sentir vulnerabilidade e nunca tivera se sentido tão vulnerável como naquele momento. Onde é fácil agir por emoção e deixar o impulso tomar conta de si. Perder o controle emocional significava se expor, expor seus sentimentos, esperanças. Aquilo era um mundo novo, inexplorado.

Ainda encostada na caixa de correio, ela deixou o corpo escorrer até o chão e caiu sentada. Encarava-o, mas sem qualquer expressão. Não exigia respostas, não estava mais tomada pela raiva, não queria mais nada. Apenas o que ele quisesse lhe oferecer por sua livre vontade. Como sempre quisera. Fechou e abriu os olhos em seguida vagarosamente. Eles afundaram no silencio mais uma vez. Catherine podia sentir o álcool ainda correndo ativamente em suas veias e artérias. Ficou ali parada, entrando sem querer num estado de semi-consciência, seus olhos focalizavam o homem à sua frente, mas ela não podia mais vê-lo. Sua mente voou para longe, despertando um maremoto de memórias, todas envolvendo algo a respeito dele.

Gil observava-a confuso, uma confusão que logo beiraria ao desespero. Como podia? Por que ela fazia isso com ele? Depois de tantos anos imergido no mais profundo abismo emocional, algo que ele tinha plena consciência, e fazia sua vida muito mais fácil. Isolar-se era tão mais simples.

Ajoelhou-se na frente dela e tocou delicadamente em seu braço. Catherine acordou de seu torpor e finalmente o enxergou. 

"Eu vou embora..." Ela disse, finalmente.

"Você não está em condições de ir a qualquer lugar. Vem, vamos pra dentro."

Ela bufou resignada.

"Mas que droga! Eu não quero entrar. Por que você insiste?"

"Nós vamos acabar doentes assim, por favor Catherine."

"Eu não me importo..."

"Mas eu sim!"

"Então me mostra!"

Gil a olhava desnorteado. Abriu a boca diversas vezes, mas não conseguia pensar em nada. Não conhecia as palavras. Começou a sentir uma dor aguda no lado direito da cabeça, precisava de sua medicação ou teria horas de enxaqueca pela frente. Seria ótimo poder convencê-la, mas ela parecia irredutível. Ele não fazia idéia do que dizer. Um sentimento tão abstrato, como poderia ser expresso por meras palavras? Como definir para outra pessoa, algo que não está claro nem pra você mesmo!

"Eu não posso, parece tão longe do meu alcance. Tão abstrato e... com um nível de complexidade tão grande com o qual eu não sei lidar!"

Gil se sentia sufocado, com um mal estar que nunca sentira antes. A enxaqueca piorava e seu coração batia tão rápido que poderia explodir. Já não estava mais ajoelhado, se levantara e andava de um lado pro outro nervosamente, em passos largos, à medida que falava com ela.

"Então me diga o que te impede. Isso está lhe consumindo, Gil. Olha pra você, eu nunca te vi tão nervoso e agitado dessa forma. Por que isso te aborrece tanto?"

Catherine permanecia imóvel, suas forças estavam esgotadas e era só isso que seu corpo podia fazer no momento. Ele, que até então se recusava a olhar nos seus olhos, virou-se e ajoelhou-se mais uma vez a sua frente. Depois de tantos anos de convivência Catherine tinha aprendido que Gil só gesticulava com as mãos quando estava bastante nervoso. Ele não tinha controle da situação e isso o perturbava profundamente. Suas mãos se mexiam rápido e sem rumo, tentando achar um elo no qual se prender.

"Eu vivi todos esses anos me fechando e tentando ignorar qualquer tipo de sentimento que tivesse. De qualquer natureza. Momentos que tirariam o balanço da minha mente, que me impediriam de analisar todas as possibilidades. Não me casei, não tive filhos, tentei evitar os amigos. Minha vida sempre foi meu trabalho, eu sabia que se eu me esforçasse eu seria bom e se eu fosse bom o suficiente, aquilo seria uma coisa certa na minha vida."

Gil sentia seu mundo desabando, todas as paredes caindo a sua volta. Todos os anos que passara desenvolvendo certa imunidade a tudo e a todos. Toda a vulnerabilidade que nunca quisera sentir.

"Eu não quero me sentir vulnerável, desprotegido. Mas você, toda vez que eu tentava me fechar, me isolar do mundo, você estava lá do meu lado. Eu não sei o que te falar, que palavras usar ou como agir."

Ela permanecia ali escutando-o, seu coração batia forte, porém ela não sabia se era a emoção por finalmente conseguir fazê-lo por aquilo que ela já tinha certeza para fora, ou se seria alguma reação adversa do álcool em sua corrente sangüínea. Catherine o conhecia melhor do que qualquer um naquele momento de suas vidas, em tantos momentos estivera presente sem que ele nem se desse conta.

Estendeu a mão direita para ele. Não tinha condições nenhuma de se levantar, claro que ainda não tinha qualquer pretensão de admitir isso. Abriu um sorriso de conforto quando ele se abaixou para alcançá-la. Com a mão livre, acariciou delicadamente o rosto, deixando os dedos roçarem na barba grisalha. Há tanto tempo ansiava por aquele instante.

A chuva finalmente começava a cessar, restando apenas uma garoa fina.

"Eu sei que é difícil, muitas vezes é tão mais fácil evitar de sentir algo que é maravilhoso pra não acabar no inevitável sofrimento. Mas qual é o sentido de viver assim, tão... morto..."

"É a minha sina..."

"Não, isso não tem nada haver com sina, mas com livre arbítrio. Você decidiu que queria viver dessa maneira e assim o fez. Programou-se como quem programa um robô, para não ter emoções e ligou o botão do automático. O homem com que eu convivo diariamente é apenas uma carcaça com conteúdo intelectual... que vive a partir de regras que você criou pra não ter que se envolver," ela baixou o olhar para as mãos que se envolviam. "Há tanto tempo que eu não te vejo sorrir..."

Mas foi ela quem sorriu, um sorriso tímido e melancólico.

"Não é fácil pra ninguém, Gil. Você não é o único que tem receio, mas você não pode deixar isso te impedir de viver. Eu acredito que todos nós estamos aqui para obter crescimento espiritual e ajudar no crescimento alheio também. Claro que algumas decisões não são as mais fáceis ou mais seguras, mas... podem ser necessárias."

Ela movia suas mãos pelo rosto dele, memorizando todos os traços e observando o efeito da água, que parava de cair. A experiência de sensações novas tomando seu corpo.

"Toda vez que sentir vontade de se fechar, ou temer algum contanto, lembre-se de como às vezes tudo que nós precisamos é um abraço ou qualquer outra demonstração de afeto pra fazer o nosso dia melhor. Naqueles dias e noites onde o nosso corpo dói e nos sentimos tão sozinhos, seu coração está pedindo carinho, conforto."

Permaneceram naquela posição por alguns minutos, absorvidos no momento. A vida se extinguindo, as pessoas não sabendo o que procurar, como viver, como se encontrar e, de repente, através da profundidade de um olhar, do existir de alguém, vemos que a vida é tudo.

Gil exibia um sorriso sincero nos lábios, quem diria que uma noite podia ser tão diferente das outras. Ele se sentia livre, um escravo alforriado após anos de luta. Há dias em que sentimos vontade de amar, de sorrir, de abraçar a todos que passam pelo nosso caminho e a sentir a vida nascer. Para ele, aquele era definitivamente um desses dias.

"Eu tenho uma proposta pra te fazer, meu caro Gil. Mas antes que eu fale, será que você poderia me ajudar a levantar? Eu odeio admitir, mas eu não tenho exatamente condições de fazer isso sozinha no momento..."

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