sábado, 5 de novembro de 2011

Fanfic Grillows-Capitulo 5


"Rápido demais..." Disse, mas sua voz não saiu mais alta que um sussurro. Fechou os olhos tentando fazer tudo parar de girar.

"Você está bem?" Ele perguntou suave, mas o som entrou como uma bomba pelos ouvidos de Catherine.

Ela levou a mão à cabeça.

"Hoje vai ser um dia difícil."

Ela se acomodou sentada com as costas apoiada no encosto da cama e Gil lhe ofereceu um copo com um liquido avermelhado.

Catherine pegou o copo e cheirou. Sentiu náuseas e fez uma careta.

"O que é isso?"

"Coquetel Molotovi pra ressaca. Toma tudo."

Ela se limitou a lançar-lhe um olhar de saco cheio.

"Arg!" Catherine fez outra careta depois que virou todo o conteúdo do copo. "Como isso é horrível."

Gil nada respondeu, apenas recolheu o copo e observou-a se levantar. Ela se encaminhou para o banheiro.

Catherine caiu sentada da privada e sentiu o quadril doer, ao se levantar, reparou o enorme hematoma escuro.

"Meu Deus..." Foi até a pia e não fez questão nenhuma de olhar-se no espelho. Já sabia que estava horrível, simplesmente abriu a torneira e pôs as mãos em concha sob a corrente de água e levou o líquido para o rosto. Repetiu a ação mais algumas vezes. Para se livrar do gosto de cabo de guarda-chuva na boca fez bochecho com o anti-séptico bucal que encontrou no armário de remédios.

Saiu do banheiro e Gil continuava sentado no mesmo lugar, agora segurando uma caneca.

"Está se sentindo melhor?" Ele perguntou.

"Mais ou menos... Minha cabeça ainda está latejando e o estômago dando voltas..." Ela respondeu voltando para a cama, massageando a cabeça.

"Toma isso," Gil deu a ela um comprimido. "Aspirina para sua dor de cabeça. E come alguma coisa. Deve ter muito tempo que você não come nada," ele completou apontando para uma pequena bandeja com alguns biscoitos e algumas torradas com manteiga.

Catherine se ajeitou apoiando-se no encosto da cama e aceitou a caneca de café que Gil lhe oferecia. Em seguida voltou para dentro e voltou com outra caneca e sentou do outro lado de frente para ela.

Ela pegou uma torrada e começou a morder aos pouquinhos.

"Não precisa me olhar desse jeito. Você já me viu bêbada antes."

"Não, não desse jeito."

Ela sorriu sem graça e ficou um tempo em silencio, mastigando um pedaço da torrada que não conseguia engolir. O enjôo ainda era muito forte, mas Gil tinha razão. Devia ter muito tempo que não se alimentava. Olhou para ele e pôde ver que ele estava bastante desconcertado com aquela situação. Não sabia o que lhe dizer.

"Gil..." Disse finalmente. "Não precisa ficar assim. Eu sei que muita coisa foi dita, eu não estava tão bêbada para esquecer o que aconteceu, mas tudo que eu disse, que eu te pedi, foi pra te tirar dessa cúpula onde você vive."

"Eu sei... Eu sei... Mas ainda não estou conseguindo raciocinar, é tudo tão novo e são tantas informações."

"Simplesmente não raciocine. Deixe que as coisas aconteçam por si só, e viva como se fosse a última vez."

Ele fez que sim com a cabeça.

"Só vamos com calma. Deixa eu me acostumar. Ganhar tanta liberdade assim assusta."

"Você sempre a teve, Gil, só nunca aproveitou," ela finalizou com um lindo sorriso.

Eles imergiram no silencio por um momento. Catherine notou que o olhar dele, discretamente fugia. Só então que notou suas pernas desnudas, além da roupa de baixo, usava apenas uma camisa de Gil. Puxou delicadamente o lençol, sabia o quanto ele se sentia desconfortável ao vê-la assim.

"Ah! Antes que eu me esqueça. Eu liguei para sua casa e avisei a sua mãe que você está aqui."

"Oh... Obrigada. Você não falou que eu bebi, falou?"

"Não..." Ele disse com um sorrisinho. "Apenas disse que você ficou aqui por causa da tempestade e que seu celular acabou tomando um banho."

Os olhos dela se arregalaram e Gil apontou para a mesinha de canto onde o aparelho havia sido colocado.

"Era uma vez um celular afogado..."

"Que droga... Mas deixa pra lá. Não vou atazanar minha ressaca por causa de um celular."

"Catherine... O que aconteceu ontem?"

Ela ergueu as sobrancelhas, visivelmente confusa.

"Pra você beber desse jeito? Eu sei que você nunca toma mais do que dois drinques..."

Catherine desviou o olhar e mirou a mão direita dele apoiada próxima a sua. Sua mente viajou para o início da noite anterior. Fechou os olhos e suspirou.

"Eu perdi o controle."

"Da bebida?"

"Não, de mim mesma. Eu estava exausta, aliás, eu estou exausta. Tô cansada de mim e a montanha de problemas que me acompanham diariamente." A intensidade da voz dela não era mais alta que a de um sussurro. "Eu conheci um cara ontem, simpático, bonito... Conversamos durante horas. Mas na hora eu não consegui..."

"Não conseguiu o que?"

"Dormir com um estranho."

A cabeça de Gil rodopiava, essa facilidade que ela possuía em entregar-se o irritava e ela sabia disso, tanto que não continuou.

"Cath..." Nenhum dos sabia o que fazer.

Catherine respirou fundo e puxou os cabelos para trás, sentindo a textura natural deles e fitou o olhar desesperado de Gil.

"Você quer saber porque eu não consegui dormir com ele?"

Ele abriu e fechou a boca repetidas vezes sem saber o que dizer.

"Por sua culpa!" Catherine se inclinou pra frente. Tantas coisas já tinham sido ditas. Que diferença fazia agora.

"Minha culpa?"

"Sim!" Ela se pôs de joelhos, já nem se importando com suas pernas completamente a mostra. Passou mãos nos cabelos, impaciente. "Adam Novak" Atacou de uma vez.

"O que?"

"Eu nunca tinha me tocado de como você me afeta, ontem eu me dei conta. Enquanto estávamos no meu carro, eu me lembrei daquele maldito dia e não consegui."

Catherine levantou, ela falava rápido gesticulando todo o tempo, como fazia quando estava nervosa.

"Eu sempre tive controle de tudo em minha vida, pelo menos eu achava que tinha, e eu gostava de quando achava que tinha. Quando as coisas iam errado, era eu a única culpada... Mas de uns tempos pra cá, não sei quanto tempo, mas já um tempo considerável, tá tudo fugindo, eu não tenho mais o controle e nada! Minha filha me odeia, não tem nenhum respeito por mim, é uma fase todos dizem, mas ela realmente excelentes motivos pra me odiar e futuramente se tornar uma problemática, afinal é tudo culpa da mãe. Minha mãe me condena por eu não passar mais tempo com a minha filha, eu também faço isso, mas por que diabos não faço nada pra mudar! Meu trabalho me consome completamente. Há meses que eu não sei o que é uma companhia masculina, eu tô completamente sozinha, sendo engolfada por uma maré de problemas e eu não consigo resolver nada! E quando eu ia conseguir finalmente me desligar um pouco de toda essa lama, me vem a cabeça você me censurando..."

Finalmente uma pausa. Ela encarou um ponto imaginário atrás de si e alguns momentos depois sentou-se na cama de costas para ele.

"Você estava querendo me proteger, tava com ciúmes, com raiva," continuou ela mais calma. "Tanto faz... A única coisa que eu consigo pensar agora é na distancia que existe entre a gente." Ela se virou e fitou o rosto dele de perto, Gil pode ver lágrimas se formarem nos olhos dela. "O que aconteceu conosco?"

Gil pegou na mão dela lembrando da noite anterior, ele estava cansado, ainda não tinha absorvido metade do acontecido, mas já tinha entendido o recado.

"Muita coisa mudou, Catherine."

"Não! O que mudou? Eu estou aqui, você está aqui. Gil, a gente se conhece há tanto tempo que só Deus sabe. Interesses mudaram, responsabilidades mudaram, mas a gente continua aqui, tão perto um do outro, mas também tão distante..."

Gil acariciou a mão dela com o polegar. Fechou os olhos e sentiu o peso do cansaço. Sem abrir os olhos, puxou-a para si e a abraçou. Não sabia se em algum momento faria isso em condições normais. Aquela mulher sabia como mexer com ele. Catherine sempre conseguia fazê-lo baixar a guarda, o pouco que fosse, mas era sempre ela que estava lá naqueles momentos, forçando-o, mesmo que inconscientemente a se abrir. Sentia-se confortável e coagido em sua presença, convidado e impelido a ser parte, o mínimo que fosse, de sua vida.

Ela o conhecia melhor do que qualquer um, e depois de tanto tempo, sabia de seus piores temores, aqueles que o faziam excluir-se da sociedade, do mundo humano que o cercava. Catherine aprendera que para mantê-lo perto, tinha que mantê-lo afastado. Nenhum dos dois compreendia todos aqueles paradoxos em suas vidas e muito menos tinham noção do passo que estavam dando, principalmente Gil, um mundo novo o esperaria se ele não tornasse a fechar a porta. Ele não faria isso. Tantas oportunidades novas, tantos sentimentos afastados, evitar a dor não era a solução, mas suportá-la e sentir-se renascido a cada nova superação. Isso era viver. Cair e levantar. Chorar para poder sorrir. Sentir uma tempestade cair durante a madrugada para ver o sol nascer num céu limpo e azul. Era fazer parte de um ciclo interminável.

Tantos paradoxos, tantos paradoxos, isso era a vida, um ciclo vicioso de paradoxos, como num poema de Camões.

De repente, uma só palavra, uma só frase, um só grito precise ser dado. Mas alguém precisa fazê-lo. Gil, sentindo o cheiro dos cabelos dela, apenas agradecia por ter sido ela, quem estendeu a mão e o trouxe de volta.

Ela queria seu amigo de volta. E ele teria a vida novamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário